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sexta-feira, 18 de julho de 2008

Sobre Musica do "Mundo"




*Sobre música do "mundo"
Braulia Ribeiro


Sobre música do mundo, e música do (sub, sobre, extra, fora, ex, pàra, outro??) mundo

Conheci pessoalmente o Don Richardson, missionário na Papua Nova Guiné, autor do best seller "O Totem da Paz”, amigo, homem humilde e que honra o trabalho que nós brasileiros fazemos entre os índios do Brasil. Numa entrevista particular uma vez, meu marido lhe perguntou: Se voce tivesse de começar de novo, o que faria de diferente no seu ministério entre os sawis? Uma pergunta delicada, na verdade um eufemismo para: - "qual foi o grande erro que você cometeu e que não repetiria se tivesse uma nova oportunidade?”

Ele pensou, pensou, o que é um bom sinal, para um homem com um ministério tão bem sucedido, conhecido mundialmente, deve ser difícil lembrar de algum erro... E finalmente disse: - Duas coisas; primeiro eu não teria traduzido corinhos da igreja Indonésia para a igreja Sawi, e o segundo teria usado dramas ao invés de pregação falada para ensinar o evangelho...

Pode parecer pouco para os não iniciados, mas para nós antropo-etno-linguo-teo-missionários foi a admissão de um grande erro. Ele estava dizendo que teria introduzido o evangelho numa forma cultural sawi e não na forma estrangeira... A maneira de cultuar, a maneira de pregar usada pelos sawis que são quase que 70% cristãos, é estrangeira, eles louvam indonesiamente, talvez até saibam cantar: ...”sim Deus é bom”... na sua própria língua.

Vamos sempre em cultos missionários, tristes a meu ver, quando se canta “yes God is good, sim Deus é bom, Deuso jahaki ada”, e por aí afora em muitas línguas, com uma alegria burra, crendo-se que o grande propósito de Deus para o universo humano é formar na terra uma imensa e uniforme igreja evangélica.

O erro que Don cometeu, também cometeram os que primeiro nos pregaram o evangelho, e também continuamos cometendo nós líderes cristãos do Brasil de hoje. No último encontro nacional de JOCUM que se crê vanguarda e as vezes é mesmo vanguarda em alguns aspectos, na frente de quase mil jovens, liderarando uma reunião pedi que a equipe de louvor tocasse “Velha Infância” dos Tribalistas para louvarmos a Deus com intimidade. Minha sorte foi que muitos dos líderes presentes não souberam que fui eu que encomendei a música, (acho que vão ficar sabendo agora), senão provavelmente eu teria sido proscrita da função de presidente nacional poucas horas depois de ter assumido. Ao mesmo tempo que a música trouxe um espírito doce e especialmente terno para toda a platéia, encheu a boca e o coração dos jovens presentes de alegria, a casa caiu depois para o líder de louvor, e ele teve que enfrentar muitas caras feias até o último dia...

Gosto de tocar “Um índio” de Caetano Veloso quando prego em congressos, e Maria Maria, do Milton que considero músicas essenciais no entendimento de nossa identidade brasileira. Infelizmente nosso Jesus evangélico não é brasileiro. Ele é internacional, e por internacional leia-se americano-europeu do norte. Este Jesus fala inglês, louva medievalmente para algumas denominações e hosana-music-vineyard-mente para outras. Mas como um religioso fariseu, coloca-se sempre à parte da cultura, acima dela, desprezando-a completamente ao invés de restaurá-la, redimí-la, legitimá-la, comunicando-se com ela. Este Jesus fariseu-evangélico ora pelas praças usando shofares (o que é isto?) se proclamando santo e desprezando tudo e todos ao seu redor. Fala num jargão de gueto cultural, e se comunica apenas com seus “iniciados” e sua mensagem é obsoleta e irrelevante para a população em geral.

Um dia numa conferência ouvi um pastor repreender em nome de Jesus “a cultura africana de nosso meio”. Coisa triste. Não me admira que na Bahia cresça tanto o número de negros que buscam sua legitimação étnica no Candomblé. Formas culturais, danças, músicas ritmos, não são pecadoras ou santas em sua essência. São formas, vasilhas, caixas na qual se depositam as bençãos de Deus, ou maldições... Na mesma conferência me deram vinte minutos para dizer algo, e num acesso de loucura pintei a cara de índia e disse que ainda veria o mesmo povo louvando ao som de centenas de tambores baianos numa timbalada poderosa e santa. Queixos se deslocaram do lugar, cabelos se arrepiaram de horror, mas inúmeras pessoas se sentiram “misteriosamente” livres para amarem quem são, suas músicas, suas danças, curtirem MPB e dançarem danças africanas em homenagem ao Deus que criou todos os povos.

Baby do Brasil numa conferência em Abril me disse que viu, pentescostalmente falando, o Espírito de Deus de maneira maravilhosa ungir a música “Brasileirinho” e centenas de pastores do G12 dançarem enlouquecidos ao som do chorinho símbolo do Brasil... É o fim dos tempos? Além de G12-mente “heréticos” estes pastores agora também se “secularizaram” de maneira perigosa? Ou será que a revelação de que Deus nos ama a nós brasileiros como somos em todas as nossas manifestações culturais, está chegando até os segmentos mais radicais do evangelho no Brasil?

Fico com a última opção. Deus é amor, não é fariseu, exclusivista, preconceituoso, racista. E além de tudo, só nós ainda não sabemos, Deus é brasileiro.

Bráulia Ribeiro






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