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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ulrico Zuínglio



ULRICO ZUÍNGLIO ( 1484 – 1531 )


A grande importância atribuída a João Calvino, o mais destacado teólogo e organizador do movimento reformado, muitas vezes obscurece a figura do reformador Ulrico Zuínglio, o líder inicial desse movimento. Nasceu numa família rica da classe média, foi o terceiro de oito filhos. Seu pai Ulrico era o magistrado chefe da cidade e o seu tio Bartolomeu o vigário. Zuínglio nasceu no dia 1º de janeiro de 1484 (apenas dois meses após o nascimento de Lutero) na vila de Wildhaus, no Cantão de St. Gall, nordeste da Suíça. Após freqüentar uma escola latina em Berna, ingressou na Universidade de Viena, onde entrou em contato com o humanismo. Em seguida, estudou na Universidade de Basiléia, na qual foi influenciado pelo interesse bíblico de alguns mestres e formou um círculo de amigos que mais tarde o puseram em contato com o grande humanista holandês Erasmo de Roterdã.

Após obter o grau de mestre em 1506, foi ordenado ao sacerdócio e tornou-se pároco na cidade de Glarus. As influências humanistas e as suas próprias experiências como capelão de mercenários suíços na Itália o levaram a opor-se a esse sistema. Tal fato contribuiu para a sua transferência para Einsiedeln em 1516 e dois anos mais tarde para Zurique, onde se tornou sacerdote da principal igreja da cidade. Tendo lido recentemente a tradução do Novo Testamento feita por Erasmo, começou em 1519 a pregar uma série de sermões bíblicos que causaram forte impacto. A partir dessa época, defendeu um grande programa de reformas em cooperação com os magistrados civis. Suas idéias sobre o culto público e os sacramentos representaram uma ruptura mais radical com as antigas tradições do que fez o movimento luterano.

O ano de 1522 foi decisivo. Zuínglio protestou contra o jejum da quaresma e o celibato clerical, casou-se secretamente com Ana Reinhart, escreveu Apologeticus Archeteles (seu testemunho de fé) e renunciou ao sacerdócio, sendo contratado pelo concílio municipal como pastor evangélico. Nos dois anos seguintes, uma série de debates públicos levou à progressiva implantação da reforma em Zurique, culminando com a substituição da missa pela Ceia do Senhor em 1525. Infelizmente, alguns de seus primeiros colaboradores, tais como Conrado Grebel e Félix Mantz, adotaram posturas radicais quanto ao batismo, dando início ao movimento anabatista, que gerou fortes reações das autoridades.

Zuínglio organizou sessões de debate teológico, nas quais os argumentos dele e de outros protestantes eram confrontados com os argumentos da Igreja Católica oficial. Normalmente, os seus argumentos eram mais convincentes e estas sessões acabavam por ser um fortalecimento da reforma. Em Janeiro de 1523, foi organizada uma disputa em Zurique, com a presença de seiscentas pessoas, que assistiram a uma confrontação entre Zuínglio e os enviados do Bispo de Constança. Ao contrário do modelo medieval (disputatio), esta forma de disputa tem lugar em local público e não numa sessão fechada ao público, algures numa universidade, sendo falada em alemão e não em latim. Em 1528, uma sessão semelhante teve lugar em Berna.



OS 67 ARTIGOS DE ULRICO ZUÍNGLIO (1523)


Este artigo inicia uma nova série que irá abordar os principais documentos confessionais da fé reformada. Confessar significa declarar a fé, algo que os cristãos têm feito desde o início. A Reforma Suíça caracterizou-se pela grande quantidade de declarações doutrinárias que produziu, com objetivos confessionais, apologéticos e didáticos. Num contexto de intensas controvérsias, os reformados entenderam que era necessário expor de modo claro e incisivo as suas convicções, com base nas Escrituras. As confissões reformadas são uma das principais expressões e fontes da teologia desse ramo protestante. Algumas de suas ênfases são comuns ao protestantismo em geral e outras, específicas da tradição reformada. Quanto à autoria, houve uma grande variedade de situações: alguns documentos foram elaborados por indivíduos, outros por grupos e ainda outros por grandes assembléias de teólogos. Esses textos em geral assumiram duas formas: confissões de fé (divididas em capítulos e seções) e catecismos (perguntas e respostas).

Os 67 Artigos de Zuínglio são considerados não somente a primeira confissão reformada, mas a primeira confissão protestante. Ao contrário das 95 Teses de Lutero, eles não só abordaram um vasto conjunto de doutrinas e práticas, mas deram considerável atenção a alguns princípios basilares do novo movimento protestante. Seu autor, Ulrico Zuínglio (1484-1531), o fundador da tradição reformada, começou a ser impactado pela Bíblia a partir de 1516, quando pároco em Einsiedeln. Ao tornar-se o sacerdote da principal igreja de Zurique, em 1519, seus sermões e preleções alicerçados no Novo Testamento assumiram um crescente tom reformista. O contexto dos 67 Artigos foi a Primeira Disputa de Zurique, em 29 de janeiro de 1523, convocada pelo conselho municipal para resolver a controvérsia religiosa que havia surgido na cidade. O conselho aprovou as proposições de Zuínglio e determinou que os ministros daquele cantão pregassem somente o que tinha apoio nas Escrituras. Esse foi o marco inicial da Reforma Suíça.

Os artigos ou Schlussreden (“conclusões”), que tiveram 26 edições em dois anos, dão ênfase à supremacia das Escrituras, principalmente no parágrafo introdutório: “Eu, Ulrico Zuínglio, confesso que tenho pregado na nobre cidade de Zurique estes sessenta e sete artigos ou opiniões com base na Escritura, que é chamada theopneustos (isto é, inspirada por Deus). Proponho-me a defender e vindicar esses artigos com a Escritura. Mas se não tiver entendido a Escritura corretamente, estou pronto a ser corrigido, mas somente a partir da mesma Escritura”. Outros destaques são: Cristo é o único Salvador da humanidade; a igreja é definida em categorias espirituais, não institucionais; as obras são boas só na medida em que são de Cristo, não nossas; as tradições humanas, ou seja, missa, proibição de alimentos, festivais, peregrinações, vestes especiais, ordens religiosas e celibato clerical, são inúteis para a salvação; em sua esfera, a autoridade do Estado é superior à da igreja; somente Deus absolve os pecados humanos; a Escritura não ensina o purgatório e um sacerdócio separado; a pregação está no centro do ministério da igreja.

Talvez a maior vitória de Zuínglio nesse debate tenha sido o endosso formal do princípio de sola Scriptura: a Escritura, com Cristo no seu centro, é a única autoridade capaz de dirimir todas as questões religiosas. Com esse notável documento, Zuínglio lançou os fundamentos da fé evangélica e reformada.

Morte de Zuínglio

Os últimos anos da vida de Zuínglio foram marcados por crescente atividade política. No interesse da causa reformada, ele defendeu a luta contra o império alemão e também contra os cantões católicos da Suíça. Buscando fazer uma aliança com os protestantes alemães, encontrou-se com Lutero no célebre Colóquio de Marburg, convocado pelo príncipe Filipe de Hesse em 1529. Embora concordassem em quase todos os pontos discutidos, os dois reformadores não puderam chegar a um acordo com relação à Ceia do Senhor. No dia 11 de outubro de 1531, quando acompanhava as tropas protestantes na segunda batalha de Kappel, Zuínglio foi morto em combate, crê-se que o seu corpo foi esquaterjado e dado às chamas. Segundo se afirma, suas últimas palavras foram: “Eles podem matar o corpo, mas não a alma”.



Zuínglio e Martinho Lutero



Martinho Lutero freqüentemente atacava algumas afirmações de Zuínglio. Muitas tentativas foram feitas para a aproximação dos dois reformistas, mas nunca tiveram sucesso. Quanto à visão teológica, a de Zuínglio tem muitos elementos em comum com a de Lutero nas negações, mas é muito diferente dela nas afirmações. De fato, o motivo que levou Zuínglio à Reforma é precisamente o contrário ao de Lutero. Este último era movido por razões fideístas: a incapacidade do homem e a omnipotência de Deus, em virtude das quais o homem e Deus estão separados por um abismo tão grande que nenhuma série de intermediários jamais poderá transpor. Zuínglio, ao contrário, apoiava-se em motivos racionalistas e humanísticos: a bondade essencial do homem, que faz com que ele não precise de nenhuma série de impulsos para subir até Deus, porque está em condições de fazê-lo sozinho. A tendência racionalista da reforma zuingliana pode ser notada imediatamente nas seguintes doutrinas: redução do pecado original a um simples vício hereditário não merecedor de condenação eterna e sem diminuição das forças éticas do homem; valor positivo da Lei e não meramente negativo; felicidade eterna acessível também aos sábios pagãos que tivessem praticado a lei moral natural. Lutero e Zuínglio estão muito longe um do outro tanto pelos motivos teológicos quanto pelos motivos que se propuseram com a Reforma: enquanto Lutero que responder à questão "como serei salvo?", Zuínglio propõe outra: "como será salvo o meu povo?".
"A grande preocupação de Lutero, tanto em Erfurt quanto em Wittenberg, era a salvação de sua alma. Não era certamente uma angústia egoísta porque pode-se dizer que ele tomou sobre si a angústia de toda a sua época. Mas o que constituía o tormento de Zuínglio era a salvação de seu povo."



Fonte: pesquisas na internet

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